Bodegas Monóvar e o vinho Fondillón

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Não poderia começar esse artigo sem dizer que a Bodega Monóvar produz uma verdadeira preciosidade (o Fondillón), não só do ponto de vista enológico (como é elaborado e principalmente seu envelhecimento), como também para todos aqueles que são apaixonados por vinhos.
A Bodega Monóvar fica no município de Monóvar, na província de Alicante, na Comunidade Autônoma de Valencia, sudeste da Espanha, a 395 km de Madrid.
Pertence a D.O. Alicante, que é formada por 8 subzonas, e a bodega pertence a subzona de Vinalopó Medio.
A história da Bodega Monóvar está intimamente relacionada com a maior e mais importante reserva de Fondillón, que é uma autêntica jóia enológica. Um vinho único com mais de cinco séculos de história .
O vinho Fondillón é produzido em tonéis monoveros de solera centenária, estas por seu volume, tradição e qualidade são as mais antigas e prestigiosas existentes , de um vinho único com uma reputação singular.
A Bodega Monóvar é rodeada por vinhedos de Monastrell, Syrah e Riesling.
São das vendimias tardias de uvas Monastrell que é elaborado o surpreendente Fondillón. A Monastrell é uma variedade tinta, autóctona da região valenciana, e internacionalmente é conhecida como Mourvèdre. Esta variedade parece adorar se desenvolver em Alicante. O clima quente dessa região faz com que ela tenha uma excelente maduração, adquirindo frescura e versatilidade.
História do Fondillón
Para entendermos o que é o complexo, intrigante e espetacular vinho Fondillón, vamos começar pela origem dessa palavra que vem do espanhol “fondo” ou do valenciano “fondellol”. Tem esse nome pois as barricas eram dispostas uma ao lado da outra, em direção ao fundo da bodega.
As histórias do Fondillón são tão deliciosas de ouvir que parecem poemas. A que mais me encanta é a que descreve o motivo pelo qual alguns chamam a parte desse vinho que já está envelhecendo em algumas barricas de “la madre” (a mãe em português). “La madre”, é aquele vinho que permanece na barrica (chamada no caso do fondillón, de solera) e que transmite para a parcela de vinho novo (também já envelhecido no mínimo 10 anos), que é adicionado dentro dessa mesma barrica, de tempos em tempos, todas as suas características. Como fazem as mães com seus filhos, protegendo-os e repassando suas experiências e conhecimentos, para que estes se tornem sempre melhores. Por isso nas bodegas de Fondillón há um respeito e cuidado muito grande com essas barricas. “Las madres” ou solera são preenchidas com vinhos vindos de outra solera mais jovem. Isso é feito anualmente e em quantidades pequenas, com vinhos de características parecidas com os da solera mãe, para que está não sofra um esforço exagerado e modifique sua personalidade. Resumindo, os vinhos mais velhos (la madre) transmitem suas características para os vinhos mais novos.
Hoje em dia só se produz o Fondillón praticamente na subzona de Vinalopó, nos territórios de Monóvar, Villena, Salinas, Algueña, Pinoso, Petrer, Sax, Castalla, La Romana e Hondones. Só é permitido fabricar esse vinho em regiões autorizadas pelo Conselho Regulador da D.O. Alicante.
É preciso também que se reúna algumas características, por exemplo, que a videira seja plantada em “vaso”, o vinhedo seja cultivado de maneira tradicional, ou seja, sem adição de pesticidas e que as cepas sejam bem velhas (no mínimo cinquenta anos) para que o rendimento seja baixo mas com alta qualidade. As condições climáticas e do solo também são muito importantes.
Vinificação do Fondillón: como é feito esse vinho
O Fondillón é elaborado com uvas Monastrell colhidas sobremaduras, ou seja, deixa-se a uva na videira além do período que ela já teve sua maduração completa. Com isso as uvas perdem água e concentram substâncias colorantes e açúcar, o que chamamos de uvas passificadas. Após a colheita vamos ter a fermentação alcoólica, onde as leveduras transformam o açúcar em álcool. O enólogo interrompe a fermentação alcoólica quando se atinge o grau alcoólico desejado (17 graus) para se elaborar o futuro Fondillón, ficando uma certa quantidade de açúcar residual (35gr). Esse vinho tem cor quase púrpura, aroma de frutas vermelhas maduras e sabor doce e suave, então passa para o processo de crianza, ou seja, de envelhecimento, e só depois de uma década, é chamado Fondillón.
Os tonéis para a Crianza (envelhecimento) do Fondillón
Cada região vinícola costuma ter barricas com características próprias e com o Fondillón não é diferente. As barricas são centenárias, com quase quatro séculos, tem capacidade de 1.732,50 litros e são feitas de roble americano procedentes do norte dos EUA e do Canadá.
Na solera de Fondillón encontramos uma parte sólida formada pela precipitação de matérias colorantes que foram se formando durante anos e anos e a parte líquida, que é o vinho propriamente dito. E são nesses tonéis centenários que “dormem” cuidadosamente o Fondillón e onde vão acontecendo a “alquimia do envelhecimento”. Os antocianos, responsáveis pela coloração dos vinhos, vão oxidando lentamente, e junto com seus “irmãos” leucoantocianos, vão aportando uma cor mais ámbar e ocre. Vão surgindo também os elementos voláteis e seus aromas de café recém moído e avelãs tostadas. A frutuosidade inicial vai evoluindo à aromas que nos lembram uvas passas e mel.
Isso tudo acontece num local da bodega chamada Sacristia, onde se guarda o vinho mais importante, mais velho e mais nobre. Na Sacrista da Bodega Monóvar há tonéis com soleras de 1930 que resistiram à guerra e tantas outras que carregam além do Fondillón outras histórias.
Em nossa visita à Bodega Monóvar fomos recepcionados pelo simpático enólogo Rafael Poveda e foi como uma aula sobre esse fantástico vinho Fondillón, que além de nos contar sobre a região e sua cultura vitivinícola também dividiu conosco histórias sobre o passado tão vivo ainda nas memórias de quem ama essa terra. Recomendamos muito que você ponha esse destino em seu roteiro enoturístico pois vale muito a pena! Ah, e vale lembrar também que a gastronomia mediterrânea da região é deliciosa, com seus “arroces” de diferentes formas. Elegemos o típico arroz de coelho e caracóis como um dos nossos preferidos, que é um espetáculo a parte, além dos pescados e crustáceos.
Degustação do Fondillón Cosecha 1987
Vista: tem coloração caoba, com matices acobreados, ribete alaranjado.
Aromas: sentir os aromas do Fondillón é um prazer a parte. Tem uma complexidade deliciosa. Sentimos passas, damascos, frutas cristalizadas, creme, aquele açúcar queimando quando vamos preparar calda de caramelo. E quando abrimos a garrafa, o aroma lembra o próprio cheiro da parte da vinícola onde ficam as barricas que envelhecem o Fondillón por anos, e onde são realizadas as degustações.
Sabor: em boca ele entra suave, com um certo frescor, elegantemente doce, e vai preenchendo toda a boca. Tem também um toque sutilmente salino. O retrogosto tem um certo amargor nada desagradável. É bem largo e persistente.
Harmonização
O Fondillón tem um dulçor elegante. Dependendo do ano da barrica onde ele foi criado (envelhecido) as características desse dulçor mudam bastante, podendo se acentuar ou ficar totalmente sutil. Na minha opinião, é aí que está todo o barato desse vinho. Minha sugestão de harmonização (fora dos padrões pré determinados) seria degustá-lo, tendo o prazer de senti-lo por completo com pessoas que adoramos conversar. Põe na mesa uma porção de amêndoas fritas e queijo roquefort. Outra coisa, não espere fazer isso apenas nos finais de semana, surpreenda-se experimentando num dia comum, saia do convencional. Garanto que vale a pena e é bem bacana!
Lembrando que o vídeo sobre esse artigo e nossa visita a Bodega Monóvar está disponível em nosso canal no YouTube.
Enoturismo
As visitas a Bodega Monóvar devem ser agendadas previamente, podendo ser feito pelo tel: +34 965 076 435 (telefone fixo) ou e-mail (info@bodegasmonovar.com).
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Salud !! 🍷🍷
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