Chile e suas regiões vitivinícolas

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O Chile é o país onde a viticultura é afortunada pelas excelentes condições climáticas favoráveis ao cultivo da videira e como sabemos, o vinho de qualidade começa a ser elaborado a partir de vinhedos bem cuidados.
O Chile é uma faixa longa e estreita localizado na parte oeste da América do Sul, sendo um dos países mais importantes produtores de vinhos do Novo Mundo.
A geografia do Chile faz com que o país tenha condições únicas e ideais para o desenvolvimento da viticultura. Ao norte do país temos o deserto do Atacama, uma região extremamente seca. A leste encontramos a Cordilheira dos Andes, ao sul, a zona gelada da Patagônia e a oeste o Oceano Pacífico.
A variedade de microclimas que encontramos em cada vale chileno é responsável pela diverisidade da viticultura desse país.
Regiões Vitivinícolas
As regiões vitivinícolas do Chile, conhecidas como Valles de Chile, estão divididas em cinco zonas: Atacama, Coquimbo, Aconcagua, Vale Central e Zona Sul. Estas zonas são divididas em sub-regiões.
Atacama
Este vale está localizado mais ao norte, localizado entre a cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Apresenta problemas para a viticultura por causa da salinidade dos solos que são ligeiramente alcalinos.
Essa região cultiva principalmetne uva de mesa, que não são destinadas para vinhos e sim para fabricação do pisco, licor tipicamente chileno.
Porém encontramos alguns produtores fazendo vinhos interesantes. Um desses projetos chama-se Vinhos do Deserto onde se elaboram vinhos com uvas cultivadas em condições extremas.
As sub-regiões do Atacama são:
- Valle de Copiapó– o vale se localiza mais ao norte do Atacama onde a maioria do cultivo das uvas está destinado para produção de aguardente nacional.
- Valle del Huasco– se divide em Huasco Costa e Huasco Alto.
Coquimbo
Os vinhedos dessa região tem a maior luminosidade de todo o Chile com uma baixa pluviometria. É uma região destinada mais para produção de uvas de mesa para produzir o pisco. Uma pequena parcela dos vinhedos são destinados para produção de vinhos de alta gama.
As sub-regiões são:
- Valle de Elqui:- localizada no extremo sul do deserto do Atacama, região árida com altitude variando entre os 300 e 2000 metros, com destaque para os vinhedos de Syrah em laderias de granito e de Sauvignon Blanc. Se cultiva também Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay.
- Valle de Limarí:- possui condições climáticas e solos semelhantes ao do Valle de Elqui e bastante apropriado ao cultivo da videira. A maior parte do cultivo de uva é também destinada para a elaboração de pisco. A variedade que se destaca na região é a Cabernet Sauvignon além da Merlot, Carménère, Cabernet Franc, Syrah, Sangiovese, Sauvigon Blanc, Viogner, etc.
- Valle de Choapa:- se localiza mais para o interior com seus vinhedos entre as montanhas, onde vem produzindo bons Syrah.
Aconcagua
- Valle de Aconcagua:- localizado entre o Oceano Pacífico a oeste e os Andes a leste, onde passa o rio Aconcagua que vai da cordilheira até o mar. As principais variedades cultivadas são Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah, sendo esse último o vinho mais emblemático de Aconcagua.
A Pinot Noir e a Sauvignon Blanc também estão prosperando neste vale por conta do clima bem fresco.
- Valle de Casablanca:
– localizado a noroeste de Santiago perto da costa, no caminho que separa a capital da cidade de Valparaíso.
Com o passar do tempo os viticultores de Casablanca souberam entender e aproveitar as condições do clima e solo, passando a cultivar principalmente cepas tintas como a Pinot Noir, Cabernet Franc e Syrah, obtendo vinhos com acidez mais elevada e corpo equilibrado.
Se destaca por ser a melhor região chilena para elaboração de vinhos brancos de Chardonnay e Sauvignon Blanc, as estrelas do Valle de Casablanca. Destacamos também a produção de vinhos doces da Sauvignon Blanc, em alguns casos atacadas pela Botrytis cinerea.
- Valle de San Antonio:
– É um vale relativamente novo, com seus vinhedos localizados nas ladeiras das montanhas costeiras, com destaque para o Valle de Leyda com suas diferentes expressões, identidade e carácter.
Valle Central
Essa é a área mais clássica e antiga do Chile e onde estão os maiores produtores. A região orienta-se de norte a sul abordando a planície central, atravessando a Cordilheira Central chegando no mar.
As sub-regiões são:
- Valle de Maipo: onde foi produzido a primeira geração de vinho chileno sério.
Os Cabernet Sauvignon do Maipo são complexos, encorpado e com taninos estruturados.
Os vinhos brancos dessa zona são na sua maioria da Chardonnay com alguns Sauvignon Blanc e Semillón, provenientes de vinhedos da Islas de Maipo (DO) que recebem ventos frescos do Pacífico, refrescando a temperatura e fazendo com que os vinhos mantenham uma frescura oceânica.
- Valle de Rapel: a sub-região de Rapel fica ao sul do Maipo e inclui dois vales: Cachapoal e Colchagua que aparecem com mais frequência nos rótulos do que Rapel.
- Valle de Curicó: o vale está localizado aos pés da Cordilheira dos Andes a uma distância média de 220 km de Santiago, com destaque para as zonas de Teno e Lontué.
Curicó foi cenário de várias mudanças e modernização da atividade vitivinícola chilena e por volta dos anos 80, algumas vinícolas internacionais (Robert Mondavi, Philippe de Rothschild, Miguel Torres) se estabeleceram em Curicó.
As variedades tintas são as mais cultivadas, principalmente a Cabernet Sauvignon e a Merlot. Em relação a variedades brancas o destaque está para a Sauvignon Blanc, porém há plantações também de Chardonnay.
- Valle de Maule:
É uma das regiões vinícolas mais antiga do Chile. Destacamos as variedades País, Cabernet Sauvignon, Malbec, Tannat, Carmenèré, Carignan e Sauvignon Blanc.
Encontramos vinhos brancos de Sauvignon Blanc fresco, cítrico e com acidez equilibrada das zonas mais frias próximas a cordilheira e solos vulcânicos e tintos com mais carácter das zonas secas e costeiras.
Região Austral
Como o próprio nome diz é a região localizada no extremo sul do país, mais próxima do polo sul.
Essa região é formada pelos vales Cautin e Osorno.
Região do Sul
É a região vitivinícola chilena onde encontramos mais produtores elaborando vinhos orgânicos e biodinâmicos de alta qualidade e bastante expressivos. Alguns desses vinhos orgânicos são chamados “pipeños”(sem filtrar, sem adição de sulfitos e com leveduras indígenas) que tem ganhado consumidores em enotecas especilizadas em New York e Paris.
As sub-regiões são:
- Valle de Itata:
– tradicionalmente se produzia nessa região vinhos de mesa mais simples, porém a vitivultura tem mudado passando a produzir vinhos de melhor qualidade.
- Valle del Bío-Bío:
– uma das regiões vitivinícolas mais austral do Chile. Na região se produz uma grande quantidade de vinho mais simples nas margens do rio Bío-Bío, porém há produtores elaborando vinhos de alta qualidade.
- Valle del Malleco:
– região localizada entre as cordilheiras dos Andes e de Nahuelbuta tem também clima bem propício para variedades como a Pinot Noir e Chardonnay.
O clima é bem frio com precipitações de 800mm anuais. Os solos são vermelhos de origem vulcânico, com pedras e muita argila.
Os vinhos costumam ser leves (baixo teor alcoólico) e com acidez bem vibrante.
Geografia, solo e clima
- Geografia:
– o relevo chileno apresenta duas cadeias montanhosas, a cordilheira da Costa e a dos Andes, uma planície litorânea e a planície central que é delimitada pelas duas cordilheiras.
- Clima:
– no geral o Chile tem clima temperado quente, com variações de climas de leste a oeste.
Os verões são longos e secos, tem uma radiação solar elevada, excelente amplitude térmica (importante no amadurecimento da uvas) devido ao ar frio noturno procedente da cordilheira da Costa e dos Andes. Os invernos são frios e chuvosos.
A corrente de Humboldt que se origina no Antártico é importante pois esfria o ar que está sobre o oceano que em seguida vai em direção ao interior do continente.
- Solo:
– os solos chilenos são bem diversificado de acordo com as regiões. Os solos mais comuns para a viticultura no Chile são compostos de argila, sedimentos fluviais, areia, calcário e marga (barro).
História da viticultura no Chile
A história da viticultura no Chile começa no século XVI a partir da introdução da videira pelos conquistadores espanhóis.
As primeiras videiras foram levadas ao Chile pelo jesuíta espanhol Francisco de Carabantes, por volta de 1548. Essas videiras vieram do Peru, chegaram pelo porto de Tacalhuano e em seguida foram plantadas em Concepción e Valparaíso.
Como sabemos o vinho faz parte dos rituais religiosos e a Igreja teve um papel importante administrando a produção e a guarda dos vinhos.
No século XIX começa uma fase mais “francesa” da viticultura chilena. Em 1830, Claudio Gay professor da Universidade do Chile e em seguida em 1854, o empresário Silvestre Ochagavía Echazarreta, importaram variedades européias como Cabernet Sauvignon, Cabernet Blanc, Semillón, Riesling e Pinot Noir como também a tecnologia usada sobretudo em Bordeaux.
No final do século XIX as exportações dos vinhos chilenos tiveram bastante êxito e seus vinhedos foram poupados da praga Phylloxera vastratix, que devastou grande parte dos vinhedos europeus.
Em 1980 com a abertura econômica do país, o setor vitivinícola se recuperou adiquirindo tecnologia moderna para irrigação, plantação e incorporação de cubas de aço inoxidável. Os vinhos chilenos sofreram mudanças consideráveis deixando de ser vinhos brancos com muita madeira para ter características mais frutada, sendo vinhos mais frescos e equilibrados. Já os tintos com mais extração obtendo vinhos mais estruturados , com mais corpo e mais longevos.
A partir da década de 90 o vinho chileno se consolidou no mercado internacional com sua presença nos cinco continentes, coincidindo com a procura norte-americana e inglesa por novos vinhos de qualidade a preços razoáveis.
Denominações de Origem
Em 1994 foi estabelecido no Chile a zonificação vitícola fixando normas para as Denominações de Origem.
Os vinhos chilenos são classificados em três categorias:
- Vinhos com denominação de origem: procedem de alguma zona estabelecida e que cumpram com todos os requisitos do Ministério da Agricultura.
- Vinhos sem denominação de origem: são vinhos elaborados com uvas viníferas de qualquer região do país.
- Vinhos de mesa: vinhos elaborados com uvas de mesa.
Nos rótulos dos vinhos chilenos encontramos alguns termos em relação a qualidade (da menor para maior categoria):
- Superior
- Reserva
- Reserva Especial
- Reserva Privada
- Gran Reserva
Os vinhos com Denominação de Origem podem também ter outros termos, desde que não utilizem nenhum dos outros termos citados acima. Esses termos não seguem nenhum critério de qualidade pré-estabelecido como os outros, porém são permitidos por lei. São eles:
- Reservado
- Gran Vino
Principais variedades cultivadas
O Chile é uma das poucas regiões que se tem videiras plantadas a “pie franco” ou seja, cepas não enxertadas e pré-filoxérica.
A maior parte das variedades cultivadas nos vinhedos chilenos são tintas. Historicamente a País era a variedade mais plantada e atualmente lideram a Cabernet Sauvignon, Carmènére, Syrah e Merlot.
Entre as variedades brancas destacamos a Chardonnay, Sauvignon Blanc e Moscatel de Alejandría.
Características gerais dos vinhos chilenos
Os vinhos chilenos vem ganhando prestígio apostando na qualidade através da redução da produção por hectares, pois no passado abusavam um pouco do uso de fertilizantes e da irrigação para o aumento da produção.
Alguns produtores chilenos também vem desenvolvendo vinhos orgânicos a partir de uma agricultura mais sustentável e também vinhos biodinâmicos.
Degustando um vinho chileno
Com a rica diversidade que encontramos no Chile, o excercício que propomos é que você experimente os vinhos chilenos prestando atenção não só na variedade de uva, mas também como é o solo e o clima da região e o tipo de vinificação que foi empregada na elaboração do vinho. Assim você vai começar a entender como esses fatores influenciam no vinho e geram infinitas posibilidades. Isso para mim é o que há de mais importante e apaixonante.
Hoje vamos beber o Taparacá Gran Reserva Etiqueta Negra 2016, de uma vinícola tradicional chilena. Ele é um de Cabernet Sauvignon (com um pouco de Cabernet Franc- não especificam ao certo a quantidade dessa variedade nessa safra) do Valle del Maipo, de uma parcela onde o solo tem origem vulcânica de textura franco arenosa com gravas.
Segue a análise sensorial do vinho:
- Visual: tem coloração rubi intenso
- Olfativa: aromas de frutas negras, bem elegante com toques de especiarias (cravo e alcaçuz) e rústicos de couro e tabaco.
- Gustativa: elegante, harmonioso e bem estruturado. Os taninos estão presentes e bem incorporados.
Lembrando que já temos o vídeo sobre esse artigo já disponível em nosso canal do YouTube.
Salud🍷🍷!!
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