Vinhos de Bordeaux

Vinhos de Bordeaux

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Bordeaux é uma das regiões vitivinícolas mais famosas e importantes do mundo e é conhecida como a capital mundial do vinho 🍷. Com uma média de 120.000 hectares de vinhedos que produzem alguns dos vinhos mais famosos e com uma longevidade espetacular.

Acredito que o fato dos viticultores e enólogos daquela região colocarem as técnicas agrícolas e enológicas a serviço do terroir, é o que torna os vinhos singulares.

Nós começamos a conhecer a região primeiro pela própria cidade de Bordeaux. Além de caminhar e conhecer suas ruas e sua história, fomos ao Le Cite du Vin, um espetáculo de museu dedicado integralmente ao mundo dos vinhos e ao qual dedicamos um artigo exclusivo sobre ele aqui no blog.

Bordeaux deriva das palavras al borde– borda e aux– água, significando então borda da água, provavelmente porque essa região está situada nas margens dos rios Garonne e Dordogne, que se encontram, formando o estuário do Gironde. A cidade está localizada no departamento da Gironda na região da Aquitania, sudoeste da França.

História

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A viticultura da região é muito rica e contempla mais de 2.000 anos de história, onde a topografia, o clima, o solo e o homem conduzindo as videiras, tornaram os vinhedos bordaleses verdadeiras maravilhas, o que contribuiu para a grande notoriedade dos seus vinhos.

Existe uma divergência entre os historiadores em relação a origem da viticultura na França. Uns acreditam na origem romana e outros creem que os antecessores dos celtas já elaboravam vinho, porém não se encontram muitos registros escritos que comprovem a segunda opção.

Durante o reinado de Cesar (Império Romano) os romanos que já haviam chegado ao vale do Ródano, se dirigiram então ao sudoeste da França chegando a região de Bordeaux, onde começaram a plantar os vinhedos pelas ladeiras e pelo vale fluvial.

Por volta do início do século XII, a região passou por um período de recessão em que os vinhedos bordaleses se reduziram a poucas propriedades, porém o casamento de Leonor de Aquitânia com o futuro rei da Inglaterra trouxe muitos benefícios para a retomada da viticultura da região, e Bordeaux conquistou a notoriedade espetacular de seus vinhos.

No século XIX, o tratado de livre comércio entre França e Inglaterra, faz com que os vinhos de Bordeaux atravessem uma fase de ouro. Infelizmente essa fase foi interrompida no início do século XX pela ação da Filoxera, uma praga que devastou os vinhedos europeus.

Graças aos avanços da viticultura e enologia após algumas décadas os vinhedos de Bordeaux se recuperaram transformando-se numa das maiores regiões vitivinícolas do mundo.

1855 e a classificação que mudou a história dos vinhos bordaleses

Em 1855, o imperador francês Napoleão III, durante a Exposição Universal de Paris, solicitou à Câmara de Comércio de Bordeaux (esta dependia dos preços que os vinhos alcançavam no mercado), que fossem separados e apresentados os melhores vinhos bordaleses, o que gerou entre os membros da câmara uma tremenda saia justa, pois eles sabiam que as escolhas gerariam muita polêmica entre os produtores e resolveram passar a bola para os coutiers, que eram os intermediários entre as vinícolas e os compradores. Imagine o problemão que eles tinham nas mãos. Foi realmente uma confusão recheada de polêmicas em toda região.

Porém os coutiers não tinham outra saída e fizeram uma lista, classificando os vinhos tintos de Bordeaux em cinco níveis. E assim surgiu a Classificação de 1855, Les Grandes Crus Classés, que incluía 61 vinícolas (Château) e se dividiam da seguinte maneira:

  • 4 Premiers Crus (1º Crus)
  • 14 Deuxièmes Crus (2º Crus)
  • 14 Trosièmes Crus (3º Crus)
  • 10 Quatrièmes Crus (4º Crus)
  • 18 Cinquièmes Crus (5º Crus)

Se entende por Crus, o melhor terroir, ou seja, a parcela de um determinado vinhedo em relação a qualidade das uvas.

Pode ser que você encontre outros artigos que mencionem que a classificação incluía 58 vinícolas (Château), o que não está incorreto, pois a lista original foi modificada. O que ocorreu é que algumas fincas originais sofreram divisões em parcelas do terreno.

Naquela época os critérios usados para classificar os vinhos de Bordeaux foram o preço que os vinhos alcançavam no mercado e o prestígio dos châteaus, e todos os classificados pertenciam a região de Médoc, com excessão de um, de Pessac-Léognan (Graves). Isso gerou uma tremenda insatisfação entre os produtores da margem direita (Saint Emillon, Pomerol, Fronsac) e Entre-deux-mers.

E para completar as polêmicas que permearam a classificação, ressaltamos mais dois acontecimentos: a insatisfação entre os próprios produtores de Médoc, onde alguns exigiram que a lista fosse reorganizada e que os châteaus fossem citados por ordem alfabética. E a outra foi a mudança na posição do Château de Mouton-Rothschild de 2º Cru para 1º Cru.

A lista para classificar os vinhos brancos de Bordeuax se limita aos vinhos brancos doces dos produtores de Sauternes e Barzac e é composta de 27 Châteaus divididos em três categorias:

  • 1 Premier Cru Supérieur (1º Cru Superior)
  • 11 Premiers Crus (1º Cru)
  • 15 Deuxièmes Crus (2º Cru)

Uma coisa é certa, independente de todas as polêmicas em torno da lista de 1855, até hoje em dia, alguns dos integrantes continuam se mantendo como os grandes vinhos de Bordeaux. Em contrapartida muitos acham que a lista está ultrapassada e apenas refletem aspectos econômicos.

Principais sub-regiões vitivinícolas de Bordeuax

 As sub-regiões vitivinícolas de Bordeaux são divididas em margem direita e margem esquerda:

  • Na margem esquerda (oeste do Garonne) é onde se localizam as regiões de Mèdoc, Graves, Passac-Léognan, Sauternes e Barsac.
  • Na margem direita (direita do Dordogne) se localizam Saint Émilion, Pomerol, Fronsac, Côtes de Blaye
  • Entre elas está Entre-Deux-Mers situada entre os dois rios no centro da região.

O clima da região é temperado e quente com muita precipitação, em média 930mm ao ano, com temperatura média anual de 17 graus.

Sofre influência do oceano Atlântico fazendo com que os invernos sejam mais suaves e os verões quentes, porém a presença dos bosques entre o Atlântico e a região, protegem os vinhedos da ação do sal e dos ventos fortes marítimos.

Portanto, com esse clima as variedades com maduração mais tardia se adaptam muito bem dando bons resultados.

Encontramos em Bordeaux uma grande variedade de tipos de solo com características diferentes. A combinação dessa variedade de solo (responsáveis por uma boa drenagem) com o fornecimento de humidade adequada, gera um bom controle hídrico, fazendo com que as videiras se desenvolvam perfeitamente, o que contribuem para a elaboração dos grandes vinhos bordaleses.

Na margem esquerda predomina um solo mais pedregoso, arenoso e calcário. Já na margem direita o solo é argiloso, calcário e com cascalho.

Variedades de uvas de Bordeuax

Em Bordeaux se pratica a assemblage na elaboração dos vinhos, ou seja, a mescla de variedades que varia de acordo com a região e as variedades tintas representam a maioria em relação as brancas.

a) As variedades tintas cultivadas na região são Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménére.

  • Na margem esquerda predomina a Cabernet Sauvignon sendo a variedade clássica em Médoc e Graves.
  • Na margem direita quem reina é a Merlot que consegue sua melhor expressão nos solos argilosos e calcáreos de Pomerol e Saint Émilion. Nessa região também se destaca a Cabernet Franc, que mesclada com a Merlot, aporta elegância, estrutura e finura aos vinhos.

b) As variedades brancas cultivadas são Sauvignon Blanc, Muscadelle, Semillón, Ugni Blanc, Colombard e Sauvignon Gris.

No entanto a Semillón junto com a Sauvignon Blanc são as mais importantes na elaboração de vinhos brancos, tanto secos como doces.

 

Destacamos aqui os vinhos doces, sempre brancos, feitos com uvas botritizadas, ou seja, atacadas pela Botrytis Cinerea, também conhecida como podredumbre nobre, que faz com que as uvas concentrem muito açúcar e perca humidade, ficando parcialmente pacificadas e que geram vinhos doces com grande quantidade de açúcar residual e potencial de guarda. Estes vinhos pertencem a AOC Sauternes e Barsac.

Denominações de Origem

Como já vimos Bordeaux se divide em várias zonas vitivinícolas e não apresenta uma classificação única para toda a região. Cada sub-zona bordalesa (com excessão de Pomerol) apresenta um tipo de classificação independente para seus Grand Cru (grande vinhedo).

Bordeaux foi uma das primeiras regiões a classificar seus vinhos por Denominação de Origem, que em francês identificamos por AOP (Appellation d’Origine Protégée) ou AOC (Appellation d’Origine Contrôlée). O sistema de classificação é bem complexo e não está baseado em critérios de qualidade (como na Borgogna).

É comum que no rótulo o nome do vinho coincida com o do Château que o produziu, como também sua classificação pela hierarquia (caso faça parte da classificação de 1855, como já vimos anteriormente) além da AOC que ele pertença. Vamos exemplificar para ficar mais fácil:

Vamos citar 5 classificações principais dos vinhos de Bordeaux:

  • Grand Crus da classificação de 1855: foi a primeira classificação dos vinhos de Bordeaux e nesta classificação só aparecem vinhos de Médoc, com excessão dos brancos de Sauternes e um tinto de Graves.
  • Grand Crus de Saint Émilion: 82 crus de Saint-Émilion são classificados como AOC Saint-Émilion, divididos em 18 Premiers Grand Cru Classé e 64 Grand Crus Classé.
  • Grand Crus de Graves: composta por 16 château da AOC Pessac-Léognan e todos os vinhos podem ter em suas etiquetas Cru Classé.
  • Crus de Bourgeois: estão dentro dessa classificação alguns vinhos de alta qualidade das 8 sub-zonas de Médoc (Margaux, Saint-Julien, Pauillac, Saint Estèphe, Médoc, Haut-Médoc, Moulis e Listrac) que não foram incluídas na lista de 1855, inclusive superando alguns châteaus.
  • Crus Artisans (artesanais) é uma classificação utilizada por propriedades com menos de 5 hectáres localizados dentro de algumas das 8 sub-zonas de Médoc na qual foram reconhecidas 44 vinícolas familiares.

E você pode estar se perguntando o motivo pelo qual a sub-zona de Pomerol não foi citada em nenhuma classificação. O motivo é que Pomerol não tem classificação oficial, no entanto essa região apresenta dois ícones: o Château Pétrus e Château Le Pin.

Encontramos também alguns vinhos bordaleses como:

  • AOC Bordeaux
  • AOC Bordeaux Supérieur

Dentro dessa classificação, os Bordeaux são os vinhos mais básicos, mais baratos, geralmente são frutados e mais leves quando jovem. Já o Bordeaux Supérieur apresenta mais estrutura e envelhece melhor.

Características dos vinhos de Bordeaux

Os bordaleses são sem dúvidas mestres na arte da elaboração de vinhos fazendo com que o corte bordalês, com seu estilo próprio, seja admirado no mundo inteiro. O que mais me encanta é a capacidade de fazer vinhos elegantes, sem excessos, com finura, equilibrados e ao mesmo tempo com uma capacidade de guarda espetacular. Completando tudo isso, eles desenvolvem aromas complexos e um conjunto de sabores densos e potentes. E conseguir potência com sutileza é mesmo uma arte.

O que encontramos ao degustar um Bordeaux

Vamos dar aqui uma ideia geral do que podemos encontrar quando tomamos vinhos de Bordeaux.

No geral são vinhos com boa acidez, o que nos faz sentir certa leveza. Apresenta aromas de frutas negras, notas de pimenta-do-reino, louro e violeta.

  • Blends com predomínio da Cabernet Sauvignon (margem esquerda): vinhos com taninos mais marcados e notas de pimenta-verde, cassis, grafite, tabaco e cacau.
  • Blends com predomínio da Merlot e Cabernet Franc (margem direita): vinhos com taninos mais suaves. Aromas mais frutados (morango, ameixa, figo), baunilha, amêndoas e fumaça.
  • Blends de Sémillon e Sauvignon Blanc (Pessac-Léognan e Graves): aromas cítricos, cera de abelha e camomila.
  • Vinhos doces a base de Sémillon (Sauternes): vinhos com aromas de mel e pêssego.
  • Blends de Merlot Côtes de Bordeaux: aromas de frutas vermelhas frescas, ervas e são ricos em taninos.
  • Rosé e Clairet: vinhos rosés secos e encorpados com aromas de groselha, morango e rosa-mosqueta.

Bordeaux é uma região muito interessante onde por todo lado encontramos belas paisagens com seus Châteaus cercados por seus vinhedos. Além dos “pueblos medievais”, onde na maioria das vezes, sua história se liga a viticultura e a enologia.

O vídeo sobre Bordeaux e sua tradição vitivinícola já está disponível em nosso canal do YouTube.

E como sugerimos sempre, uma ótima combinação enquanto faz a leitura dos artigos aqui no blog ou assiste o vídeo, é tomar um bom vinho. Garantia de um bom entretenimento e aprendizado sobre o fascinante mundo dos vinhos. Caso queira pode encontrar vinhos com um de nossos parceiros cuja especialidade são vinhos franceses. Basta clicar aqui.

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